20.11.13

Duas Gerações

Poucos jovens saberão que “os Iris” de Van Gohg foram vendidos por uma soma astronómica;
Que Steven Spielberg subiu à ribalta com E.T;
Que o “Último Imperador” arrebatou nada mais nada menos que 9 óscares;
Que o mundo ficou marcado pelos dramáticos incidentes da praça Tienamen;

Alguns deles entraram este ano para a Universidade. Deviam ter portanto uns 3 anos de idade quando Corbatchov foi eleito e iniciou a abertura da URSS.
Tinham 1 ano quando Madona lançou o “Holliday” e 2 quando Rosa Mota foi medalha de ouro em Seul.
Para eles existiu somente um Papa.

Não fazem ideia do que foi o “Live Aid” e nunca cantaram “We are the World,We are the Children”
Quando Gabriel Garcia Marquez ganhou o Nobel nem sabiam ler.
Seguramente só se lembram de 2 Presidentes da República.
Quando Mário Soares foi eleito tinham uns 3 anos.
Tinham 10 anos quando a União Soviética se desintegrou e enquanto nós víamos em directo a libertação de Mandela, faziam provavelmente os trabalhos de casa.
Para eles “The Day After” é uma discoteca em Viseu, não o título de um filme.

Só lhes calhou ouvir falar de uma Alemanha, ainda que, na escola lhes tenham contado que havia duas.
O muro de Berlim caiu quando tinham 7 anos. Na realidade, aos seus olhos uma metade da Alemanha ser comunista soa-lhe muito estranho.
O 25 de Abril é tão histórico como a I e a II Guerras Mundiais.

Não tiveram discos de vinil. O CD entrou no mercado quando nasceram e daí que a expressão “pareces um disco riscado” não signifique nada para eles. A Guerra das Estrelas parece-lhes bastante falsa e os efeitos especiais, patéticos.

A SIDA existiu toda a sua vida.
Sempre houve atendedores de chamadas e, afinal, que tem de novo enviar documentos por linha telefónica?
Para eles nunca houve outra forma de levantar dinheiro senão em caixas nas paredes.

O “Bebé Proveta” é 3 anos mais velho do que eles.
Muitos deles não acreditam ou nem se lembram que a televisão só tinha 2 canais e alguns nunca viram uma televisão a preto e branco.
Os vídeos sempre existiram e não podem sequer entender o que é ver televisão sem telecomando.
Nasceram no ano em que a SONY pôs à venda o primeiro “Walkman” e para eles os patins sempre tiveram as rodas em linha.

Nunca viram “A Abelha Maia”, o “Marco” ou a “Heidi”.
Para eles Michael Jackson sempre foi branco.
Como é que o Travolta pode ter dançado bem com aquela barriga?
Para eles “Os amigos de Alex” é um programa de rádio e provavelmente se vissem o “Flash Dance” dava-lhes uma enorme vontade de rir.
Para eles, nós fomos A GERAÇÃO X…! Fomos a geração da mudança. Fomos a ponte. E deixámos escritos os manuais para que A GERAÇÃO Y possa construir uma nova etapa na história da humanidade.


23.10.13

UM jardim à beira mar



É engraçado como nos meteram na cabeça que Portugal era um jardim à beira mar plantado. E nós acreditámos. Talvez por isso, nós, os jardineiros, pouco façamos para manter os canteiros, os pátios e as varandas do tal “jardim”.

Ora bem.... Para fins turísticos dá jeito dizer que sim, que somos um jardim  à beira mar plantado.

Vejamos a cara dos turistas quando desembarcam no aeroporto de Faro e vão para o Hotel, esse sim, à beira-mar mal plantado, num sítio onde há uma dúzia de anos havia  umas dunas e parte dum areal! 

E as nossas frondosas florestas?
 Pois é... são bonitas, com os eucaliptos todos alinhadinhos prontos para alimentar as fábricas de celulose que mais ninguém na Europa quer! Dos extensos pinhais de há vinte anos, resta o de Leiria e poucos mais. Sim... esse mesmo que D. Dinis mandou plantar há  700 anos e que, ano após ano, também se vai reduzindo. 


Pelo caminho que as coisas levam, qualquer dia temos meia dúzia de pinheiros cercados de arame farpado com uma placa a rezar assim: "Amostra do que foi o Pinhal de Leiria, mandado plantar por el-rei D.Dinis em 1289". E à sua volta, turistas... e visitas de estudo de escolas que, após uma breve explicação correm para uma pizzaria e uma loja de hamburgers estrategicamente construídas a 50 metros da auto-estrada e a 50 metros deste resto de pinhal, outrora à beira-mar plantado!

20.9.13

As novas palavras
Tempos houve em que as palavras tinham um outro sabor. Um sabor claro , elegante e inteligente.
As palavras são uma parte importante do ar que respiramos. São quem nos alimenta a vida em família ou na sociedade em geral. Como seria o nosso pensamento se não existissem palavras?
As palavras diziam, significavam, sorriam, excitavam.
Esmagadas neste tempo de ruído, as palavras estão a sumir-se, a mirrar, a esvaírem-se. Estão a ficar magras e secas.
Se uma imagem vale mais que mil palavras, como dizem, de que valeria a imagem se não existissem palavras?
Como é triste a escassez que têm agora as palavras nas rádios/toca-discos dos nossos dias. E o vazio dos programas das nossas televisões. Que pálidos murmúrios, que pobreza de palavra.
As palavras são tudo o que temos, quando já não temos quase mais  nada. são a matéria prima das ideias, são as alavancas da ação, são as legendas dos nossos próprios sonhos.
As palavras são a voz do coração, disse Confúcio.
 Não vejo onde está o coração de palavras como “tásse bem”… “boralá”… “lol”… “chunga”…”bué”… ou “bora bazar”… entre tantas outras cada vez mais usadas pelos mais jovens.

São palavras que arranham, que não podemos vestir de cetim e veludo, que não sussurram , não se perfumam.
Já imaginaram dois jovens apaixonados a murmurar ao ouvido  - meu ganda chungaaaa….!


Um outro Cisne

26.8.13

Namorar é Preciso

Todos precisam sonhar, viver momentos de encanto e magia, momentos em que se soltam as emoções e se tornam insignificantes as preocupações do dia a dia

Todos ficam, no entanto, rapidamente aprisionados a partir da altura em que a relação se estabiliza e ganha contornos de instituição.
Gostam de namorar, mas casam e pronto lá se vai o namoro.
Cada um por si lamenta que assim seja, mas nenhum dos dois faz nada para modificar o estado das coisas na triste rotina do quotidiano.

Com a chegada do primeiro filho, das noites mal dormidas e da dificuldade em encontrar quem fique com o bebé, o hábito de sair ao sábado, desapareceu e passados 10 anos, três filhos crescidos, uma empregada, os jantares sociais, os sogros, as idas à aldeia……… nunca, nunca mais arranjaram tempo para ir dançar, escrever um poema e nunca mais disseram um ao outro quanto gostam dele.

Vamos lá namorar, passear de mão dada e não esquecer os pequeninos gestos que mantêm acesa a chama.
A rotina do dia a dia não pode prejudicar o namoro e
viver a dois em plena harmonia, já é, por si só, um namoro constante feito de partilha e cumplicidade.

Namorar é também cuidar do outro e ser cuidado por ele. É telefonar para perguntar como estão as coisas por aí. É  ter um colo para chorar.
Somos livres para escolher e ser livre é ter coragem, ser autêntico e permitirmo-nos viver um sentimento maior.l




20.8.13

Portugal deixou por esse mundo fora um honroso património de que é herdeiro, conseguindo perpetuar as suas tradições além-fronteiras e dando-lhe uma visibilidade inigulável


Não podemos deixar de pensar que fomos grandes na escala do mundo de quinhentos; não somos capazes de deixar de nos sentir ameaçados na Península Ibérica onde somos o mais pequeno Estado mas a maior das Nações; não fomos ainda capazes de acreditar que os descobrimentos não aconteceram por sermos rijos e de barba dura mas porque uma élite de portugueses estudou, investigou e soube formar profissionais de marear e de guerrilhar que tornaram as rotas comerciais possíveis e mais seguras.

Não podemos perder a grandiosidade e a complexidade da nossa cultura e temos que defender a nossa língua, o nosso falar, porque só nele poderemos continuar a contar o Portugal que fomos, que somos e que queremos ser. Não podemos esquecer que um povo que não sabe ler, que não sabe contar ou que não sabe pensar está condenado a tornar-se uma relíquia na memória dos historiadores.

País de navegantes onde há duas palavras que são ouro no nosso código genético-cultural: Saudade e Fátima!
Que na bandeira do meu Portugal eu consiga ler com nitidez mais duas palavras douradas: dignidade e esperança.

Continua a valer a pena viver em Portugal com o desafio estimulante de
estar tudo por fazer, ou refazer.




11.7.13

Viver no Campo



Há uma doce nostalgia nas pequenas coisas da terra.
Há um véu tímido de neblina matinal.
As gotas de orvalho escorrem pelos vidros das janelas. Lá fora cheira a pão cozido e os galos desafiam-se para nos darem os bons dias, qual despertadores.
Ouvem-se os passarinhos, os cães das casas dispersas e algumas galinhas da vizinhança. Gosto desta pacatez... da sensação de desafogo que me proporciona!
Gosto de colher as alfaces que cumpriram o seu dever. É só arrancar...passar por água, temperar com um fio de azeite, vinagre, coentros e acompanhar o jantar.
Ao fim da tarde cheira a lume, podemos ver o fumo a sair de cada chaminé. São as casas que começam a ser aquecidas para enfrentar mais uma noite gelada.
A magnólia já está em flor a salpicar de branco a entrada do alpendre.
Os vizinhos batem à porta para nos oferecerem produtos do fumeiro e da horta e darem permissão para lá irmos sempre que precisarmos.
Não há nada como viver no campo e conviver com a natureza. Comer fruta diretamente da árvore sem receio de químicos, acordar com o silêncio profundo das manhãs de neve, adiar a hora de jantar para assistir a um espectáculo de relâmpagos, sentados no jardim, ou embrulharmo-nos em sacos-camas para numa noite de Inverno ficar a contar estrelas cadentes, apontando constelações num céu limpo e um ar liberto de poluição sonora.





6.7.13

Envelhecer


 













Tidos necessariamente como mais sabedores, os mais velhos representam uma experiência maior e merecida, cultivada com a sabedoria que só a vida lhes pode dar.
Ao envelhecer vai-se sabendo que a vida pode não ser sempre justa mas que vale sempre a pena ser vivida.
Percebemos também que a vida é curta demais  para a desperdiçarmos com zangas, ódios, rancores e azedumes e que temos que fazer as pazes com o passado para que ele não atrapalhe o futuro.
Compreendemos também que não temos de ganhar sempre e que o consenso é muito mais frutífero que a rutura.
Envelhecer é perceber que tudo pode mudar num abrir e fechar de olhos, mas também sabemos que tudo o que não nos mata nos torna realmente mais fortes.
“A cada dia que passa mais me convenço que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos ao sofrimento perdemos também a felicidade” Drumond de Andrade.
Ou, como diria o meu amigo Pedro Barroso, no fundo, bem no fundo - velha é a terra, a história, a humanidade - .
Uma coisa é certa, no dia em que me sentir triste por não conseguir acompanhar o ritmo da música, farei com que a música siga o compasso dos meus passos. Afinal, é só mais uma fase da vida e eu quero ter a certeza de que a minha  valeu a pena e que fiz e faço o melhor que posso.





6.5.13


E o mar aqui tão perto....


Dia após dia, vou virando as folhas da agenda.
Assim vou cumprindo, no seu ritual, o tempo; assim vou construindo, pedra a pedra, que é como quem diz, tarefa a tarefa, uma sucessão de decisões que me levarão ao fim de um percurso que tracei para os próximos anos.
Sento-me num rochedo da praia do Pedrógão, castigada que está pela tempestade recente, olho para a corrente e transporto-me para outras paragens, para outros rios que correm, para alto- mar e descubro que continua a correr um rio dentro de mim.
O barco sou eu própria e sinto-me aparelhada. E mesmo que ninguém dê o sinal de partida, soltarei amarras.
Lanço um olhar de tristeza sobre a areia que viajou  até às casas e lá longe, num mar zangado, imagino as caravelas que nos levaram a locais onde em tempos fizemos história. E fomos Pátria.
Uma Pátria que hoje recordo com nostalgia e um nó na garganta. Um sentimento de insatisfação de quem deseja ir mais longe; o desconforto de quem se incomoda e não se quer acomodada.
É preciso que nos mostrem que a viagem se faz de velas desfraldadas. É preciso quem nos lembrem que quietação e estagnação são sinónimos. É preciso que abram a janela da nossa distração para voltarmos a olhar para os obreiros do nosso despertar colectivo. Os tais que lançam no charco a pedrada.
Porque assim se agitam as águas e assim se reconstrói um País.



9.4.13

terra

Esta terra é nossa - dizem.
Esta terra lembra o desalento do nada
a saudade do verde que se teima em querer durar na nossa vida
Falam de feridas abertas
onde a dor se acende e o vento morno nos embala
A irmã lua ainda dança
para a gente cantar
A mãe lua ainda chama
para a gente dançar...

E se quisermos dobrar a alma
e tecer a tristeza em toques de veludo e de urze despida,
estamos à vontade e à frente do tempo e dos tempos

Vale o cântico desta terra
a fonte que não seca
o xisto que constrói pontes dentro de nós

Onde quer que eu vá
em toda a parte
onde quer que o sonho e a fadiga telúrica me leve,
hei-de lembrar-me de ti.

Terra minha. Terra nossa.

5.4.13

O Tempo está a contar



O futuro de Portugal não se pode decidir apenas pelo que se está a fazer –
ou a desfazer –, hoje, no país. Mas muito mais pelo que foi feito ontem tal como pelo que se espera possa ser feito amanhã.

Olho o passado sem nostalgia nem complexos. Olho o passado com o rigor e a paixão de quem passa pelo presente com a firmeza de estar sempre a meio caminho entre o que foi e o que será.

Ouço dizer que a tradição já não é o que era, mas sou tradição – uma tradição combinada com a juventude que desperta em força e potencialidades. Uma juventude que aguarda que lhes entreguem os manuais para o novo tempo. E o tempo está a contar… porque a cada dia já é tarde demais.

Portugal deixou para trás, no seu trajecto milenar obras  de que nos orgulhamos.

Na perspectiva de que a Cultura é o voo mais sereno e infinito dos homens, podemos dizer que Portugal se despiu de fantasmas, furou paredes de mármore e que cada um de nós saltou fronteiras e foi embaixador do seu berço amado.

Vamo-nos abstrair dos governos, das crises, dos erros e das falências, dos impostos e de tudo o que nos provoca uma imensa desconfiança no futuro.

Vamos  apostar  num futuro cheio de  esperança, com gente nova capaz de reinventar o novo mundo e que nos faça voltar a encher de orgulho e entusiasmo, porque quem pode fazer mais por nós, somos nós mesmos.

10.3.13




Estou Farta….

A mediocridade impera como sistema e no sistema.
É necessário termos uma grande dose de conformismo para que possamos manter alguma sanidade mental. Ou então rir . Rir das personagens que governam este país, talvez seja o melhor remédio.
Para sobreviver às notícias diárias sobre a governação, passei a funcionar como se  autista fosse.
Cansei-me do  FMI, da troika do desemprego, dos impostos, da guerra dos canais, do TGV, dos assaltos , das flutuações de energia da EDP, dos banqueiros, do BPN, da Casa Pia, dos que que erram por ganância (e que todos conhecem ) mas que ninguém culpa.
Cansei-me da mediocridade. Cansei-me deste ritual diário de violência e aberração.
Cansei-me das companhias de seguros a quem pagamos barbaridades mas que não assumem as responsabilidades mesmo quando na zona em que vivemos pareceu que o mundo ia acabar:
Onde caíram árvores, voaram painéis solares, levantaram-se as telhas , e estragaram-se quilos e quilos de alimentos  de toda uma população .
Já ninguém me convence neste abismo social. Já  ninguém é bom a longo prazo nesta crise das democracias.
E pensar que a Europa já foi o melhor sítio do mundo.
 Cantada por fausto não há muitos anos:
“Europa querida Europa
nascida da Ásia profunda,
 ó filha do rei……”

semánário Região de Leiria
7 de Março 2013

9.2.13





A Ternura
“Por um pouco de ternura…”, cantava Jacques Brel.
“Aquilo de que cada ser humano mais fome tem,  (e para o qual menos alimento encontra) é a ternura”, escreveu Françoise  Sagan.
Não há dúvida que a ternura é um estado de alma que nos transmite uma tranquilidade sem limites.
Acho que devíamos investir na ternura não só porque ela pode tornar a vida mais leve neste pesado cinzentismo em que nos encontramos, mas também porque quem é terno atrai ternura.
Os fabricantes de armas podiam fabricar armas de ternura. A publicidade podia usar a ternura como factor principal.
Recuso-me a carregar um deficit de afeto, carinho e TERNURA,  responsável, ao que parece, por grande parte de doenças que por vezes insistimos, em vão, tratar com remédios.
Conta-me o MEU médico que uma doente lhe entrou um dia pelo consultório e disse com lágrimas nos olhos :
 - É de um olhar que preciso, doutor.
Poucas são, no entanto, as pessoas capazes de desencadear afetos. Nem acho que as pessoas bonitas sejam mais facilmente gostáveis do que as que o não são, porque a ternura está no olhar, no falar, no abraçar  e até no criticar.
A nossa cultura não favorece as carícias, mas nós podemos fazer por isso. Eu dispenso o formal e distante aperto de mão por um beijinho e acreditem que se pudesse, havia de inscrever a ternura na nossa Constituição.