Dia após dia, vou virando as folhas da agenda.
Assim vou cumprindo, no seu ritual, o tempo; assim vou construindo, pedra a pedra, que é como quem diz, tarefa a tarefa, uma sucessão de decisões que me levarão ao fim de um percurso que tracei para os próximos anos.
Sento-me num rochedo da praia do Pedrógão, castigada que está pela tempestade recente, olho para a corrente e transporto-me para outras paragens, para outros rios que correm, para alto- mar e descubro que continua a correr um rio dentro de mim.
O barco sou eu própria e sinto-me aparelhada. E mesmo que ninguém dê o sinal de partida, soltarei amarras.
Lanço um olhar de tristeza sobre a areia que viajou até às casas e lá longe, num mar zangado, imagino as caravelas que nos levaram a locais onde em tempos fizemos história. E fomos Pátria.
Uma Pátria que hoje recordo com nostalgia e um nó na garganta. Um sentimento de insatisfação de quem deseja ir mais longe; o desconforto de quem se incomoda e não se quer acomodada.
É preciso que nos mostrem que a viagem se faz de velas desfraldadas. É preciso quem nos lembrem que quietação e estagnação são sinónimos. É preciso que abram a janela da nossa distração para voltarmos a olhar para os obreiros do nosso despertar colectivo. Os tais que lançam no charco a pedrada.
Porque assim se agitam as águas e assim se reconstrói um País.
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