28.9.08

The day before you came



Mamma Mia - que nostalgia esta que vivo nestes momentos!
Domingo, 28 de Setembro de 2008
In Memoriam (Paul NEWMAN)




Hoje não há fitas na matiné.
O écran está menos azul.
Está vazio e calado.
De tristeza.
De negro vestido mais do que é costume.
O último dos grandes desapareceu.
Para sempre...
As minhas homenagens e a uma época de ouro do Cinema.
Publicada por César Paulo Salema em 18:16

Cais (carta)


Espero-te no meu cais, vestido a rigor,
de verde mar incendiado,
de anil cor do fogo que aquela água apaga.
Imagino que tu vens vestida de névoa cambraia
Sem rosto, sem mosto,
apenas com o sabor a mel selvagem
que a abelha mais obreira do teu recanto
foi capaz de retirar da mais doce aragem,
feito do ar puro que de ti brota,
que em mim repousa...
Não sei se vens por bem,
Se vens por mal entendidos.
Só me resta esperar
o imponderável,
o cheiro a livros e a casa de bonecas,
a sombra da alfazema e da madressilva,
a barca que me há-de fazer chegar notícias de ti.
Estou aqui sentado na madeira do cais.
Só para que conste, não saio daqui sem tu chegares,
mesmo que nunca chegues a chegar...

23.9.08


Olho e descubro que é preciso olhar mais,
que é necessário ver,
que é imperioso sentir
e que é urgente partilhar tanta perfeição.

21.9.08




Conhece os premiados em www.radioclubedeleiria.com
E aparece

20.9.08

19.9.08

O que nós fomos...



Memories
Light the corners of my mind
Misty watercolor memories
Of the way we were

Scattered pictures
Of the smiles we left behind
Smiles we gave to one another
For the way we were

Can it be that it was all so simple then
Or has time rewritten every line
If we had the chance to do it all again
Tell me - Would we? Could we?

Memories
May be beautiful and yet
What's too painful to remember
We simply choose to forget

So it's the laughter
We will remember
Whenever we remember
The way we were

Laura e Paulo

P. Acreditas em amores impossíveis?
L. Creio no já, e no agora, nada mais, nada menos.
Creio no instante de rosas que me dás, no sem fôlego em que me trituro todos os dias em que navego por tuas águas felizes.
P. Mas será para sempre?
L. Mas o que é o sempre, meu amor presente?
Não será a vida feita de pequenas horas que juntas resultam num sempre efémero, numa eternidade prometida mas nem sempre convencida...
P. Quero amar-te para sempre, Laura.Mas sinto que me falta o rastilho para essa eternidade, para esse desejo que, temo, se esvaia e se esfume por entre as neblinas da normalidade balofa em que nos envolvemos.Nâo te afastes de mim, nunca...
L. O nunca é uma ilusão, Paulo, acredita. Não vivas angustiado pela incerteza da futura caminhada destes dois amantes que se querem agora e neste momento, que se entregam mutuamente uvas e bagos de milho, que penteiam solidões acompanhadas, que cantam o cântico mais dolente do mundo, que tocam a guitarra mais cigana da esquina, que se querem pertencer um ao outro, sem aviso, sem prazo de validade.
Se o carinho não der para o sempre, que me baste esta hora em que me eternizo em ti, Paulo.
P. Mas não me deixes.
L. Não me deixes tu, Paulo.
P. Nunca te deixarei.
P. Não prometas aquilo que não podes prever ou controlar.
Quem te diz que te não eternizarás noutro rosto, noutro corpo, noutras águas?
P. Controlo as minhas emoções. Sei o que quero.
L. E o teu corpo e coração, outro nome para a mais indecente de todas as obsessões, saberão?!
P. Eles são parte de mim. Como não o saberão?
L. Escuta-te, meu amor de hoje. O teu amanhã será aquilo que a vida te fizer escolher, será a estrela polar que mais próxima estiver de ti, será muito daquilo que hoje recusas reconhecer. Mas não te angusties em demasia. Nâo vale a pena, crê em mim.
P. Obrigado por me ouvires.
E grato te fico, metade de mim, por soletrares a mesma língua que hoje cultivo, que hoje quero aprender.
Ser-te-ei fiel.
L. Mesmo que me digas que já não me amas...

17.9.08

"Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura..."
Fernando Pessoa

Vivemos todos, no fundo, a mesma história…

Busco-te


A vez dos toques das mãos e dos corações feridos,
as chances que se dão aos que tombam, aos que falham, aos que sangram,
as danças de corpos inquietos em busca de redenção...
Do filme "Lantana" - a voz de Célia Cruz.
Para sempre...

16.9.08

Zeca...........e os outros

Pontes, supremas pontes



Há sempre aquelas pontes invernosas que separam os nossos passos, os nossos ais.
E existem sempre aqueles laços vermelhos, amarelados de espanto, que querem romper a distância que se cria entre nós, no plaino ensolarado dos convés da vida...
Quero-vos meus, quero-me vosso...

Brincar de viver...

Á E., porque sim...

Palavras


Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!

Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto,
como Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.

Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,

Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

Sílvia Plath

(tradução de Ana Cristina César)

15.9.08

Fim de tarde na Aroeira

Não te desvies da linha......

À minha Rádio


Hoje quero louvar a Rádio (porque para mim tem rosto de mulher) onde, ainda piratinha, na minha Leiria natal, fui tão feliz, tripulando durante quase seis anos, em horário nocturno, uma “Nau da Bonança”.
De facto, apesar de agora ser vizinho do Mondego, as minhas águas desaguaram ou nasceram em LEIRIA.
Ò Leiria, Lis-óptima, dominando as ameias das gentes, o histérico deambular das raivas surdas dos entroncamentos, das cores semafóricas em ruas brancas de breu, eis que nos vestes de bairro pobre, de gente rica, sem cheta e só com aquele brilhozinho nas pupilas da escassez!
Um garoto solta um grito absurdo entre os ardinas das desgraças dos outros (que a dele não vende!) e uma varina nazarena sopra o vento do pregão e vende os cachuchos amarelentos de cada dia, contando os tostões que não chega a ver.
Há bonecos de corda pendurados no olhar dos leirienses, ávidos de um toque que seja de um seu semelhante, há lantejoulas estampadas nos anseios dos que querem mais do que sentem, há barcas de madrugada no sorriso primeiro da prostituta da esquina que não se rende às penas mas que se põe a render, há tanto de tanto e tanto de nada...
Em Leiria, pátria desta Rádio, navegam soluços estridentes de uma outra forma de viver os segundos de saudade que se sentem dos serões de província de outrora e oscilam as esperanças destas pedras rolantes que não deixam de pintar o soalho do Terreiro, à espera de melhor sorte.
Não há pássaros nos beirais nem chuva que caia sobre o plaino abandonado porque anonimamente pisado; ouvem-se as buzinas agitadas dos táxis que transportam os filhos da Terra que se consomem em catadupa, encontram-se os contribuintes que pagam, os aduladores que fazem de conta e benzem as supremas atitudes do “Big Brother”, os Hércules e das Desdémonas inventando confusões babilónicas, o violinista cego que toca as notas da desdita, os adúlteros sem aviso prévio, as crianças dos outros que não têm direito a colher baladas felizes...
Subitamente, sentimos necessidade de olhar para a outra margem, para aquela banda de lá, desconhecida.
Faz-nos falta sentir o ar salgado da maré, ver homens e mulheres ao leme de mil e uma terras, manipuladores das graças e desgraças de um país real à nossa espera, gente de boné de pala, de camisola de malha rota, de cachecol tardio, casos com nomes não apagados dos nossos papéis!
Queremos tocar as gentes, COMUNICAR…
Vamos segurar as rédeas dos cabos do convés da vida experimentada e não simulada.
Os lábios da tarde abrem-se à nossa passagem e sentimo-nos perto dos outros que, por vezes, nem nos vêem…
Trabalho em fato de operário, a bordo de uma nau, no dorso de um navio, na asa de uma aeronave, na assinatura de um acórdão mal dormido, na onda de uma rádio nocturna, nossa única companhia, o que interessa é este sabor a vida vivida, a suor frio e a mãos quentes, a sangue correndo nas veias espásmicas da autenticidade, feito hino ao labor de rostos que marcham vivendo, prevaricando, conflituando, comendo as cinzas e as fagulhas do último Inverno, com que alimentam as bocas mais ou menos esfaimadas dos putos de cara rosada e de maça de adão a despontar numa virilidade imprecisa.
Se é a experiência que nos ensina o alfabeto da existência, uma palavra será dita por este rio a todos aqueles que o violam, sem apelo nem agravo. Se NAVEGAR é preciso, um toque de emoção vinda das profundezas das águas é sempre um ingrediente indispensável ao imprevisto, à loucura saudável e ao inconformismo, à vivência da serena mas tão complexa humanidade de todos nós…
E nesta viagem pelo rio abaixo rumo aos outros, às ondas de uma cantiga ouvida na CENTRAL FM (outrora Rádio Clube de Leiria), iremos ver o sussurro da VIDA gritada às postas e a verdade do que se não se chega a sentir e a dizer, naquele escrever de água que logo se apaga mas que subsiste na gramática dos nossos sentidos, das nossas convicções, dos nossos julgamentos, das nossas frustrações, das nossas solidões, das nossas euforias, das nossas paranóias, dos nossos desvarios…
´”Você vive aqui? No meu prédio? Há três anos? Meu Deus, nunca tinha dado por si!”

14.9.08

Vivemos todos a mesma história


Queria, neste fim de noite, partilhar convosco a letra de uma canção do grupo FEIST e que encerra o superlativo filme "Paris je t'aime", realizado por 18 nomes, tantos quantos os bairros escolhidos de Paris.
A versão que vos trago é poliglota (português, francês e inglês).
A mensagem é una - estamos todos na mesma dança, vivemos todos a mesma história, mudem as línguas, os costumes, os deuses, os fusos horários, as cores ou as intolerâncias...
Procurem o filme e cheirem-no - sabe a magnólia e a alfazema!

Life’s a dance
We all have to do
What does the music require
People are moving together
Close as the flames in a fire
Feel the beat
Music and rhyme
While there is time
We all go round and round
Partners are lost and found
Looking for one more chance
All I know is
We’re all in the dance!
Night and day
The music plays on
We all part of the show
While we can hold on to someone
We know life won’t let us go
Quel este donc ce lien entre nous
Cette chose indéfinissable?
Oú vont ces destins qui se nouent
Pour nous rendre inséparables?
O que é então que nos separa
Senão aquilo que por acaso nos reúne?
Para quê tantas idas e vindas
Neste caminho infinito?
On est toujours dans la même histoire
We’re all in the dance
Vivemos todos, no fundo, a mesma história…

Entrega dos Troféus - pedrada No Charco



E quando eu calar a minha voz, por favor entendam

13.9.08






A NÃO PERDER, MESMO

O Melhor espectáculo da música e da cultura

que se faz em Portugal

www.galaradioclubedeleiria.com

Pedes-me um texto de amor à pátria portuguesa e eu ando em processo de divórcio litigioso.
De facto, feitas as contas, pouco mais me deu que memórias, história, sonho, aventura e um nome lusitano. Antigo, verdadeiro, montanhês de primeira geração. E como tal, inconformado e rebelde no momento em que me pedes tal esforço.
Gerida de mão em mão, não me revejo nem nos valores, nem nos organismos, nem nos colectivos onde está a desaguar. Sei que é um corpo que eu amei muito e custa-me vê-la ser possuída por cantores de cozinha, cabra, carreira, amor pimba e outras selvajarias culturais. Custa-me e magoa-me que ignore o grande amor de uma vida que dei por ela. Culto, desinteressado e sincero.
Garça! De vez em quando é assim. Tem crises de identidade. Houve uma altura, até, em que andou amancebada sessenta anos com os espanhóis. De momento tem ligações distraidas com a Cultura, cuida mal do Património, esquece-se dos pobres, gasta milhões fora de sitio, mantém os funcionários publicos em dieta rigorosa, adula empresários e esquece os artistas. Talvez por isso, falando noutro dia com Virgílio Ferreira, Jorge de Sena, Zeca Afonso, Camões, Sá de Miranda, Miguel Torga, Eça, Carlos Paredes e outros companheiros de uma tertúlia que eu frequento, onde apenas entra gente de um só parecer de um só rosto e duma só fé, posso adiantar que nenhum deles andava satisfeito com o comportamento último desta ingrata.
Para onde vai, acho que, de momento, nem ela sabe. Ultimamente, de resto, não Ota nem desota.
Luto há quase 40 anos pela cultura. Todos os dias. E, afinal, até já foi ou vai ser despenalizado o não saber escrever. Teremos portanto, licenciados e doutores; professores, médicos - até engenheiros!...- literal e literariamente analfabetos. Custa muito.
Sim, eu sei. As separações são sempre difíceis. Devia acalmar-me. Conseguir separar o trigo do joio. Mas onde anda o trigo de tão esquecido e destruído? Como pode sobreviver a tanta tempestade? E porque se promove o joio como se fossem jóias? Porque não acusar que, de tantos heroísmos passados, tantas praças passadas a fio de espada, tais cometimentos hoje andem ao nível e estejam convertidos em helicópteros compradinhos já avariados? Nah. Eu quero Mem Ramires, Geraldo Geraldes, o sem Pavor; quero o Condestável, Vasco da Gama, Gago Coutinho, Humberto Delgado, Salgueiro Maia! Eu quero heroísmo. Já. In nomine patria. Eu exijo a minha dose actualizada de heroísmo.
Mando-te portanto, poemas escritos em tempo de melhores sentimentos; são recordações de quando éramos felizes. Tenho também fotografias dela, toda exposta, nua, gloriosa, tiradas em momentos de excesso e intimidade que mal ouso agora relembrar. 5 de Outubro 1910, de barrete frígio e busto amante; 25 Abril de 1974, de cravo ao peito, gritando liberdade. E outras. Guardo-as para mim. Por egoísmo e um resto imenso de amor com que a quero lembrar, apesar do exílio a que me forçou.
Fica portanto isso, a gastronomia e as mulheres. O mar e a montanha. O idioma, um pouco átono, mas bonito, versátil, elegante, cheio de perifrásticas doces e requebros de alma. E os músicos e poetas, lavradores de palavras e encanto.
Mas recuso-me a enviar-te cartas de amor a essa senhora. Sei que - na tua única faceta lésbica conhecida - és profunda amante dela. E respeito. Mas eu ando zangado, pronto. Mando-te um poema e inclui na revista. Fica original e cumpre a função. Acho que o Deuladeu é subtil e merecedor. Não sei. Escolhe. Eu nao quero mais saber.Demito-me.
Mas não me peças neste momento, cartas de amor a essa senhora voluvel, de porte desigual. Erudita e esbelta no mar e na montanha; corrupta e podre nos lobis e nepotismos varios; inteligente e grácil na poesia e no cante; pesada e bisonha na delação e na intriga. Carregada de ouro e facilidades para todos os que não merecem e eu, que lhe dei o melhor de mim, a ver o tempo passar. Ingrata.
Orgulho nacional? Neste momento?! Pode ser que me assalte e eu recaia um dia destes. As paixões eternas são assim. Mas de momento, estou em greve. Estamos zangados. Não escrevo!

Pedro Barroso