18.12.12



Fui ver o Inverno
E ele não me recebeu
Estava com compromissos inadiáveis:
Fazer chover no Deserto do Namibe
Recolher a neve no centro de Casablanca
Limar a geada que cai no Ceilão
Arrefecer o granizo das terras da suada África
Acalmar os furacões que arrasam Manhattan
Libertar os relâmpagos e os moribundos ramos que tombam sobre as hortas de Díli
E apressar o vento suão que mina Delft

O Senhor Verão apanhou-me, então, no caminho:
Ia apressado sossegar os oásis de Rabat
E esquentar os espíritos nas nórdicas praias, perto do sol da meia noite e do luar do meio-dia
Não me falou, nem o interpelei:

É que, sabem, venero o Inverno
Outonal ou primaveril
Insano passageiro das neves azuis do Klimanjaro
E dos negros baixios do Himalaia

Ele sossega-me com o seu véu púrpura
Perto dele não precisamos de fingir

Amo eternos invernos, sobretudos que queimam,
A lareira da tua mão que me afaga,
O fogo aceso daquela brisa que passa e repassa
E que voltará, triunfante e solene,
Um ano depois, perto do nada,
Numa outra página de calendário
Mais velha, mais suja, mais minha...


Fui ver o Inverno
Mas ele não estava em casa - tinha partido para as férias de Verão!