28.12.10





Feliz daquele que consegue entender a causa das coisas

20.12.10



Era uma vez um rapazinho que tinha um temperamento muito explosivo.

Um dia, o pai deu-lhe um saco cheio de pregos e uma tábua de madeira.

Disse-lhe que martelasse um prego na tábua cada vez que perdesse a paciência com alguém.

No primeiro dia o rapaz pregou 37 pregos na tábua. Já nos dias seguintes,
enquanto ia aprendendo a controlar a ira, o número de pregos martelados por
dia foram diminuindo gradualmente.

Ele foi descobrindo que dava menos trabalho controlar a ira do que ter que
ir todos os dias pregar vários pregos na tábua...

Finalmente chegou o dia em que não perdeu a paciência uma vez que fosse.

Falou com o pai sobre seu sucesso e sobre como se sentia melhor por não
explodir com os outros.

O pai sugeriu-lhe que retirasse todos os pregos da tábua e que lha trouxesse.

O rapaz trouxe então a tábua, já sem os pregos, e entregou-a ao pai. Este
disse-lhe:


- Estás de parabéns, filho! Mas repara nos buracos que os pregos deixaram na
tábua. Nunca mais ela será como antes. Quando falas enquanto estas com raiva, as tuas palavras deixam marcas como essas. Podes enfiar uma faca em alguém e depois retira-la, mas não importa quantas vezes peças desculpas, a cicatriz ainda continuará lá. Uma agressão verbal é tão violenta como uma agressão física. Amigos são jóias raras, cada vez mais raras. Eles fazem-te sorrir e encorajam-te a alcançar o sucesso. Eles emprestam-te o ombro,
compartilham os teus momentos de alegria, e têm sempre o coração aberto para
ti.

CONSIDERO-TE UM AMIGO! E SINTO-ME HONRADO POR ISSO.

Desculpa se já deixei alguma marca na tua tábua...

22.11.10

"Deixar que uma amizade morra

por negligência ou por silêncio é uma

loucura comparável à de atirar longe um

dos maiores tesouros desta cansativa peregrinação"

(SAMUEL JOHNSON)

17.11.10

Somewhere Over The Rainbow - Ray Charles

What a Wonderful World - Louis Armstrong

Jason Berrent | Cirque Performance Montage

Com simples técnicas de comunicação, desenvolveremos a nossa capacidade de nos relacionarmos connosco próprios e com os outros, com a nossa esposa ou marido, com os nossos filhos, nossos pais, os amigos, os colegas, os professores, os alunos, os vizinhos, os empregados e os patrões. Comecemos por aprender a conhecer os nossos sentimentos e as nossas necessidades... Demos os primeiros passos!

José Paulo Santos

3.11.10

Abertura da 18ªGala de Leiria

Boa noite.
Hoje dizem que esta gala tem a idade maior.
É maior de idade.
Tem a maior das idades.
Sim, a minha, é também uma idade maior, aquela que está mais próxima da ternura de não mais querer os anos que passaram mas não conseguir fazer nada sem a memória deles.

A idade é maior porque tinha 20 anos quando Nixon assinou a retirada do Vietname, quando o flower power passava de mão em mão, de peito em peito, de viola em viola, maior argumento para quem se deu a tudo o que de novo chegou, para quem verteu as últimas lágrimas de napalm, para quem acreditava que havia uma só cor no Mundo e uma só balada de café triste – aquele que irrompia do dolente canto de Bob Dylan, da voz interventiva de Joan Baez, do cântico mais solene de Martin Luther King.

A Lua estava ali à nossa espera, com o mar da sua tranquilidade espantando os nossos medos e enfurecendo as iras de mil e uma odisseias no espaço.

Kennedy, dividindo o seu coração entre Jackie e Marilyn, era assassinado como uma qualquer pomba de botequim, como se não houvesse nada mais do que Dallas em 1963.

A crise do viúvo petróleo abalou o oriente e a praia de eleição era Copacabana.
Com o 25 de Abril, foi o salve-se quem puder! As casas do Algarve deixam de pertencer aos donos e a moda passa a ser o Leblon e o Rio de Janeiro.

Os fatos de banho e os biquinis eram de licra cada vez mais reduzidos e a ideia de proteger a pele começou a ganhar forma.
O maior sucesso comercial era conseguido pela Mercedes com os 280 e 350 SL, enquanto a Wolkswagen “carocha” continuava o seu sucesso até ao fim da década.

Os manos Gibb dos Bee Gees dominavam os TOPs e venderam 30 milhões de cópias com a banda sonora do filme “A Febre de Sábado à Noite”, soltando gritinhos disco e atropelando as pistas de dança.

Arautos do rock progressivo, os Pink Floyd deslumbraram alguns (enquanto que para outros eram uma fantochada), exortando os professores para deixarem os alunos em paz…
Simon and Garfunkel receberam meio milhão de almas para uma farra no Central Park, perto da mesma avenida em que anos mais tarde uma bala perpassou o coração de John Lennon.

Na década de 80, Chernobyl e Gorbachov deixaram a Europa de rastos e caíram muros. Uns de vergonha. Outros de junquilhos.

Foram os anos da proveta, da sida e dos portáteis.
Madonna usou a própria sensualidade até à exaustão e Michael Jackson foi durante algum tempo o homem mais famoso da Terra. Em 1982, o álbum Thriller esgotou 40 milhões de cópias, passando a ser o álbum mais vendido de sempre.

O nudismo, apenas o lado mais genuíno e cru de todos nós, passou a ser completamente livre. E o surf tornou-se uma instituição em Portugal.

Bruce Springsteen foi «The Boss».
Kate Bush cantou os ventos uivantes.
Dizíamos todos, em uníssono, que tínhamos nascido para viver (born to be alive).
Era uma idade maior aquela que tínhamos guardado na gaveta do nosso espanto e na certeza de que o mundo pulava e avançava nas mãos daquela criança que, um dia, colocara um cravo na boca da espingarda que Abril não conheceu.

É esta a hora.
A que ainda temos para viver.
A que sonhamos ainda querer.
A que nos cabe inteira na palma da nossa mão estendida.
A que nos veste de gala para hoje estarmos aqui.
(…)

12.10.10

GALA DE LEIRIA COM “IDADE MAIOR”
07/10/2010 por O Mensageiro
A Gala de Leiria é um acontecimento que marca o calendário dos grandes espectáculos realizados desde há 18 anos na nossa região, com impacto crescente por todo o País.
Inicialmente promovida pela Rádio Clube de Leiria, depois Central FM, está actualmente desvinculado desta emissora, dada a sua reestruturação num projecto nacional.
Chegou a ser anunciada a sua organização a partir do Orfeão de Leiria, mas esta instituição acabou por sair do projecto.
Ainda assim, a habitual equipa de promotores, encabeçada por Emília Pinto, não deixou cair a organização e este ano avança para a 18.ª edição, com o tema “Idade Maior”. Será no dia 15 de Outubro, a partir das 20h30, no Auditório Paulo VI, em Fátima.
Uma das características desta gala, por cujo palco passam diversos convidados do mundo da música e do entretenimento, é a entrega dos “Troféus Pedrada no Charco”, que visam premiar aqueles que se distinguiram no ano de 2009/2010.
Este ano, a lista é a seguinte: Solidariedade – Padre Feytor Pinto; Melhor Projecto Revelação – Natália Juskiewicz; Cidades de Leiria e Fátima – Francisco Vieira; Carreira-Prestígio – Joaquim Furtado; Mérito Artístico – Anabela; Melhor Grupo do Ano – Virgem Suta; Melhor Canção do Ano – Pedro Abrunhosa; Revelação Nacional – Desbundixie; Comunicação – Clara de Sousa; Melhor Guitarrista Português da Actualidade – António Chainho; Melhor Disco do Ano – Júlio Pereira; Melhores Espectáculos do Ano ao Vivo – Oquestrada; Versatilidade e Talento – Dulce Pontes; Melhor Apresentadora da Nova Geração – Filomena Cautela.
As surpresas, essas, mantêm-se em relação aos entregadores de troféus, como habitualmente.
Mais informações em www.galadeleiria.com.

18.9.10

A IDADE MAIOR
(os nossos verdes anos)

Ao ritmo imparável do tempo, tomamos consciência de que o calendário está no ano 2010.
Olhando para trás é difícil acreditar que ainda estejamos vivos.

Nós que viajámos em carros sem cinto de segurança ou air bags, que não tínhamos tampas de segurança nos frascos de remédios, que andámos de bicicleta sem capacete e que pedíamos boleia, indiferentes aos perigos dos desconhecidos do norte expresso.

Éramos nós que bebíamos água da torneira e não engarrafada, que saíamos cedo de casa e só ali regressávamos quando o sol se punha sem podermos ser localizados.
Desconhecíamos os meios actuais de controlo, telemóveis implacáveis que nos perseguem como radares.
Nós partíamos os ossos e os dentes e não havia ninguém para se culpar.
Eram apenas acidentes!
Comíamos doces e refrigerantes e não éramos obesos.
Partilhávamos as mesmas garrafas e ninguém morreu por causa disso.
Não tínhamos Nintendo, playstations, canais por cabo, computadores ou internet…

Nós tínhamos amigos.
Sem prazo de validade.
Sem corantes ou conservantes.
Apenas aqueles que nos tocavam na pupila e nos prometiam ternura a granel.
Alguns eram menos inteligentes e, horror dos horrores, repetiam o ano escolar.
Nós tínhamos liberdade, fracassos, sucessos, responsabilidades e aprendíamos a lidar com isso.
Nós sobrevivemos e chegámos a esta bonita IDADE MAIOR.

Daqui para a frente, só quero apanhar os anos bons, quero deixar os maus na despensa dos desperdícios e roubar os anéis de Saturno para enfeitar os cabelos de quem amo.
Daqui para a frente, quero serpentinas e apitos, seda fina e cambraia para cobrir os meus olhos de mulher criança.

Quero novidades do dia anterior, as saudades do futuro que ainda não tenho.
Quero afagar os caracóis da menina que me dá um sorriso de domingo na avenida maior do meu verão, quero defender as cores todas do arco-íris, quero matar o tempo que não me dão, quero o tempo todo que ainda me puderem dar.

E se cheguei aqui hoje foi porque mereci, porque não atropelei ninguém e porque fiz dos moinhos de vento as minhas madeixas de cabelo.

Sou maior. Dizem que vacinada.
Contra a tristeza que me impõem.
Contra os mal-amados.
Contra os invejosos e pedrados de poder.
Vou com as aves, por muitos anos… e bons!


Emília Pinto,
Gala 2010

1.9.10

à espera de Setembro


CAFÉ DE SUBÚRBIO (14)

Já não há mármore na mesa,
Onde o poeta ou o pintor
Esboce um verso, um traço de beleza:
Dê um sinal de si, se for.

Lembro os perfis desses clientes,
Debruçados no espelho do tampo claro e liso,
Como se vissem aflorar, em águas doentes,
Ainda impreciso, um rosto de Narciso.

E o lápis vagueava, a imaginar o rumo
Da voz que só em nós se sente e escuta,
A expandir-se da névoa, entre névoas de fumo,
No crispado da escrita, na lânguida voluta.

Eles, rostos de boémia, o chapéu desabado.
Na xícara, o café a arrefecer da espera.
E o mármore feliz de se ver violado!
E um frémito, em redor, da Primavera!

Acabados o café e a inspiração,
Lançavam para ali o cobre da despesa.
Logo vinha o criado (era criado, então!),
Arrecadava o cobre e, sem hesitação,
Limpava todo o oiro do mármore da mesa.

António Manuel Couto Viana
(1923 – 2010)
As escadas não têm degraus, nº4
(Cotovia, 1991)

15.8.10

“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal"

Eça de Queiroz em 'As Farpas' em 1871

13.7.10

O meu cabo das tormentas


Dobrei a tristeza
E arrumei-a lá bem no fundo
Mesmo ao lado
Das ilusões. Das desilusões. E das agruras da vida
Meti-as na mala
Para que não me esquecesse
Do mal que me fizeram...
Fui buscar também os sonhos
Que ainda me restavam
E arrumei-os na bolsa de fora
Para estarem mais à mão
No acaso de se virem a realizar
Mera fantasia...
Ainda havia muito espaço
Na minha mala de viagem
Por isso
Também lá meti as saudades
Que me chegaram
Com o vazio deixado
Por alguém muito querido
Só faltava a esperança
Que tinha perdido algures
Entre o sonho e a realidade
Mas que me apareceu de novo
Assim como que por magia...
Quando já não a esperava
Arrumei-a com cuidado
Para que não se amarrotasse
Juntei as promessas todas
E misturei-as com as mentiras
Que me ofereceram um dia
Meti tudo no mesmo saco
Que não meti na mala...
Deitei-o fora!
Sentada na paragem deserta
E enquanto espero pelo autocarro
Que tarda...
Faço contas à vida
Do que já passou
E do resto
Daquele que ainda me falta...
Somo tudo
E já é menos de
metade...

Entre o tu e o eu


Origem dos sonhos esquecidos

Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca

Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância dum relógio solar

Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado

Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante

Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras

qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente

Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu

Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo



Mário Henrique Leiria
in A Única Real Tradição Viva
Perfecto E. Cuadrado
Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa
Assírio & Alvim
1998

4.7.10

15.6.10

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere
O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou daChuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que
oSimples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»Pablo Neruda

7.6.10

50 anos depois...


A MEUS PAIS…
Em Bodas de Fino Oiro

A cidadela anda alegre.
Longe de sonolenta.
Nunca cabisbaixa.
Há 50 luas atrás, no tempo em que o tempo ainda se preocupava com o tempo que tardava em chegar,
Ele encontrou o olhar dela
E disse-lhe com a voz triste dos poetas:

«Estás aí para mim,
tu que me tiras o fôlego
e o ar pleno de ternura que da minha impaciência brota.
Estás aí para mim,
segura como uma folha cadente,
Como uma saia rota,
que nunca haverás de vestir, em tempo frio, em tempo quente...
Estás aí para mim,
pertences-me como o mar pertence à gota que o liquefaz,
como a guerra pertence à sombra da nossa paz.
Estás aí para mim,
Insegura na tua incerteza de chave certa,
Serena na tua insensatez de porta aberta,
Nebulosa na tua impacatez de fêmea liberta.
Estás aí para mim. Eu sei.
Até ao fim».

Ela ouviu-o com a impaciência das corças e respondeu-lhe:

«Escrevo o teu nome que sei
O teu sinal que desvenda a minha vulnerabilidade de mulher
Rodopio a mão pela areia que brota do teu mar
E sinto as algas tocarem-me no fundo do meu peito
Aquela pomba enlouquecida
Que trazes escondida nos cabelos
Sossega, então, no meu regaço
Até à hora em que me venhas ver de novo
Ensinando-me um novo nome»

E cresceram eles em graça e sabedoria,
correndo por castelares ameias,
torpedeando o Lis e o Lena,
rumando à terra do capim e dos mucubais,
fazendo as estradas dos outros,
deixando suor por lá,
na hora em que o negro venceu o branco,
florindo dois frutos, botões de cravo roxo,
cantando a mais dolente canção de amor.
Ele ensinou-lhes que sempre de pé perante os homens
E só de joelhos perante Deus…
Ela entregou-lhes a ternura e a candura como incenso e mirra…

De súbito, o escorpião entrou em suas vidas.
Inquietaram-se os ventos
e um estúpido incidente retirou-lhe - a ele - a voz com que sempre,
razoavel e ponderadamente,
deu ordens aos dois filhos e os dirigiu.
Ela dele cuidou, com a serenidade do dever cumprido,
Com a pele dele ainda sobre a sua, como se de uma única se tratasse…
Amam-se.
E são amados.
Demais...

A cidadela continua ufana neste dia das 50 badaladas.
O veludo dos seus olhares toca-nos.
A força dos seus interiores chega-nos, sem aviso.
O ruído dos seus silêncios forçados anima-nos.
Os anjos bons segredam aos seus ouvidos
recados de melhores dias,
de sonatas inacabadas
que ainda necessitam de um acerto final.

Ele chama-se Joaquim. Por missão.
Ela é Maria de Lurdes. Por convicção.

Para eles, nesta casa do Deus que sempre os guiou,
a nossa homenagem.


Do filho Paulo, aos 5 dias do mês de Junho de 2010

(lido em 5.6.2010, no Santuário do Senhor Jesus dos Milagres - Leiria)

13.5.10

A voz e as palavras

Sou Mulher. Adulta. Senhora.

Às vezes soturna. Tantas vezes ufana.

Tenho uma voz e revejo-me nas palavras, ditas e reditas por mim, através de mim e pelos outros.

Hoje apeteceu-me um pedaço de estrofe, um naco de poema vadio, uma fatia de romance de erva-doce ou de cordel.

Quero-me sensata, inquieta, imprevisível, desassossegada na minha habitual pacatez, metafórica, feita daquelas águas claras que irrompem das minhas almas, sem aviso, sem surpresa.

Leiam-me, Ouçam-me, decifrem-me, Soletrem-me....E ensinem-me as mágoas das flores, perto das magnólias que florescem antes de dar folha.

Não me atirem correntes mas antes gotas de chuva.
Quero a mansidão das manhãs de Outono, a fúria dos escorpiões, os risos surdos de Charlot, as garças dos vossos sorrisos...As palavras, vagabundas e libertinas, trocam-me as mãos com o seu galope e afugentam os meus demónios.

E correm, velozes, em busca do meu trote...Onde estás, cavalo meu?... à solta no meu peito, perto do canto mais estreito dos meus dedos, longe da esquina mais larga do meu espanto.

Quem te deu asas, quem te feriu de voz e pena, quem te trouxe encavalitado na minha dor, quem te fez meu, mesmo sem asas?
Queria escrever algo para espantar as tempestades
Deixem-me usar uma pena de outros tempos
Deixar recados por histórias antigas e dolentes eEncontrar violinos debaixo das pedras da calçada...A mão segue implacável, sem controlo, sem razão,sem que eu a consiga deter.

Parem-na se quiserem. Eu... nunca a deterei.Por amor ao papel.
Ao branco grávido e vazio. Às linhas incontáveis dos meus cadernos da infânciaAos livros que li sem perceber. Às sebentas que preenchi com lenga-lengas. Por missão e Por recato da minha imaginação.
Sou voz. E uso palavras.
E estou aqui a apresentar-me. Obrigada por estares aí. Ainda. Obrigada por terem estado aí.....enquanto cultivei A VOZ E AS PALAVRAS

7.5.10


Caros amigos

Depois de ultrapassado o turbilhão de trabalho e emoções que constituiu este ano especial em que fiz celebração de 40 Anos de Carreira, quero agradecer-vos a todos os que de qualquer forma colaboraram, participaram ou me estimularam e apoiaram, com um fortissimo abraço.
Prometo continuar a lutar com dignidade, e a Arte e força possiveis, por uma canção mais valiosa, mais culta, mais bela e mais profunda.
Não me demito, nem retiro. Ajustarei apenas azimutes e processos de vida.
Seleccionarei mais cuidadosamente os locais, os projectos e as propostas culturais.
Com efeito, nem todos merecem, por vezes, o esforço e a generosidade que sempre caracteriza o que faço em palco.
Vou descansar, recarregar baterias, compor, escrever, pintar, passear, jardinar a vida.
Mas penso regressar - mais entusiasta, apostado e irreverente que nunca - o mais breve que conseguir.
O apoio que senti por todo o País deu-me uma alma enorme e uma insuspeitada perspectiva de quanto gostam do que faço.
Não fazia ideia de quanto era querido e respeitado por esse Portugal fora.
Isso acrescenta enormes responsabilidades ao futuro de tudo o que eu decida abraçar.
Ainda quero ir a muitos sitios onde nao fui, e fazer muitas coisas que nao fiz.
Há muita música por compor, muitas canções por inventar.
Se calhar, não muitas já, mas as mais sentidas, ainda estarão por nascer.
Mas esta sensação momentanea de PAZ está a saber-me divinalmente.
Agradeço-vos terem compartilhado comigo todo o stress e loucura do ano q passou.
Literalmente: - de Arcos de Valdevez a Ponta Delgada! Passando por Paris e Lisboa. Mas também Arraiolos, Ponte de Lima, Viana do Castelo, sei lá...
Caramba.
Sem a vossa ajuda nada disto tinha sido possivel.
Um abraço cá do fundo de mim para todos vós.

ate já,

Pedro Barroso

27.4.10

Qualidade de Vida do Rendimento Mínimo









Qualidade de vida é receber 800 € mensais (ou mais) para não fazer
nada.



Qualidade de vida é levantar à hora que se quer porque os outros
trabalham para ele.


Qualidade de vida, é ter como única preocupação escolher a
pastelaria onde vai tomar o pequeno-almoço e fumar as suas
cigarradas, pagos com os impostos dos outros.

Qualidade de vida é ter uma casa paga pelos impostos dos outros,
cuja manutenção é paga pelos impostos dos outros, é não ter
preocupações com o condomínio, com o IMI, com SPREAD´S, com
taxas de juro, com declaração de IRS.

Qualidade de vida é ter tempo para levar os filhos á escola, é ter
tempo para ir buscar os filhos á escola, é poder (não significa
querer) ter todo o tempo do mundo para acarinhar, apoiar, educar e
estar na companhia dos seus filhos.

Qualidade de vida é não correr o risco de chegar a casa irritado,
porque o dia de trabalho não correu muito bem e por isso não ter a
paciência necessária para apoiar os filhos nos trabalhos da escola.

Qualidade de vida é não ter que pagar 250€ de mensalidade de
infantário, porque mais uma vez é pago pelos impostos dos outros.

Qualidade de vida, é ainda receber gratuitamente e pago com os
impostos dos que trabalham o computador Magalhães que de
seguida vai vender na feira de Custóias, é receber gratuitamente
todo o material didáctico necessário para o ano escolar dos seus
filhos, e ainda achar que é pouco.

Qualidade de vida é ter as ditas instituições de solidariedade social,
que se preocupam em angariar alimentos doados pelos que pagam
impostos, para lhos levar a casa, porque, qualidade de vida é
também nem se quer se dar ao trabalho de os ir buscar.

Qualidade de vida é não ter preocupação nenhuma excepto, saber o
dia em que chega o carteiro com o cheque do rendimento mínimo.

Qualidade de vida é poder sentar no sofá sempre que lhe apetece e
dizer “ TRABALHAI OTÁRIOS QUE EU PRECISO DE SER SUSTENTADO”.

Qualidade de vida é não ter despesas quase nenhumas, e por isso
ter mais dinheiro disponível durante o mês, do que os tais OTÁRIOS
que trabalham para ele.

Qualidade de vida é ainda ter tempo disponível para GAMAR uns
auto-rádios, GAMAR uns carritos e ALIVIAR umas residências desses
OTÁRIOS que estão ocupados a trabalhar OU ASSALTAR uma
ourivesaria.

Qualidade de vida é ter tudo isto, e ainda ter uma CAMBADA DE
HIPÓCRITAS a defende-lo todos os dias nos tribunais, na televisão,
nos jornais.

Isto sim, isto é qualidade de vida.
Ass: UM OTÁRIO

17.4.10

Iluminário

Amo as luzes primeiras que se acendem quando o fogo do dia se quer apagar...

13.4.10

Para a Sandra com MUITO AMOR




Ser forte é permanecer.......................!

22.3.10

Há coisas que a minha alma, já tão mortificada, não admite:
assistir a novelas de TV
ouvir música feita de barulho
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de uma apresentadora de televisão
A euforia dos saldos
Os programas da manhã e da tarde na televisão
A incompetência dos funcionários públicos (alguns)
A inércia das meninas dos balcões dos centros comerciais
Os alunos que batem nos professores
A soberba dos que se julgam insubstituíveis


Minha alma anda estraçalhada a todo instante pelos
Telefonema dos operadores de telemóveis
Pela loja de pronto a vestir com promoções
Pela oferta de crédito ...........como se não se tivesse que pagar e bem pago......

Não posso mais passar a vida ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem, comendo o que todos comem. A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que a minha pobre alma fora destinada a habitar outro mundo)E ligarei o rádio a todo o volume, gritarei possessa nas partidas de futebol, e apenas sentirei, uma vez por outra, a vaga nostalgia de não saber que mundo perdido é este...........

À Manela
Todos os percursos são difíceis .... mas cair de vez em quando tem as suas vantagens.
Ficamos pelo menos, mais atentos ao caminho.

22.2.10

O meu silêncio por Amélia


Foi em Leiria que o mundo a viu partir para a nuvem 9 onde, do Alto, me vigia e consola.
No passado dia 12.
Sem apelo nem agravo.
E sem aviso.
Eu sei que tinha 90 primaveras, mais Verões (que era a sua estação predilecta).
Mas estava bem e recomendava-se, saída todos os dias para o seu café, para a sua malha de anos, para o seu livro de cabeceira, para a sua sonata de piano (porque tocava Brahms)...
O Supremo Ser quis levá-la. E após um calvário de 14 dias num hospital de horrores, partiu e ainda teve tempo para me dedicar um último olhar, 24 horas antes da partida.
Ela, que me ensinou a falar inglês, a tocar piano, a nadar e a soletrar cantilenas americanas (nasceu na terra do tio Sam).
Ela que me dizia que todos os meus desenhos eram Picassos e que todas as minhas redacções eram Hemingways...
Ela que tinha um feitio de irlandesa, escorpiã com muito orgulho,
era uma das minhas heroínas de vida.
É dela que sinto saudades de mil cidades sem nome,
é para ela que elevo a minha voz e o meu olhar, 10 dias após ter embarcado rumo à pousada da sexta felicidade.
Consigo falar dela. Agora.
A custo.
Mas com a certeza de que, se ouvirem um bramido de Beethoven no ar, pelos lados do Lis e do Lena, é ela que certamente me dedica a sua última tocata em amor maior.

Era e é a minha avó, granny de nome próprio.
Chamava-se Amélia...

17.1.10

O meu silêncio pelo Haiti



do blog - A vida é uma magnólia

10.1.10

Fio de lua


Deixei uma barca à deriva e
Pendurei-me na lua, em corda bamba de abismo
E esperei pela maré alta que viria do teu luar
A noite era de prata, o mar era de sargaço
Só tu tardavas...
Por momentos quis cair na água
Mas a lua não me quis perder
E tu que tardavas.
E a barca das ilusões, aquela que vive perto da dos amantes,
cobriu-se de um pano branco, exangue, solene
à espera da tua chegada.
E tu que tardavas em vir,
descoberta pela noite fora, envolvida pela noite dentro,
sôfrega do tempo que, afinal, nunca te dei...
Já passavam das quatro.
Quase à beira das oito.
E, nesse instante, senti que te tinha perdido:
que a barca nunca iria se encher do teu riso,
que a lua nunca iria vibrar com o teu pranto,
que o fio nunca iria quebrar-se pelo meu peso.
Foi nessa altura, perto do amanhecer mais tardio que alguma vez conheci,
que me deixei cair,
à espera que a barca não me amparasse a queda,
à espera que a lua não se zangasse, afinal,
à espera que tu tardasses ainda mais até nunca mais...
Nessa hora, a nona daquela noite,
levantei a âncora da minha ira
E, em silêncio, rumei para sul,
sem esperar pela gaivota esfaimada que todas as manhãs por ali irrompia, sem piedade,
sem atender à dor que a ausência das tuas águas felizes me fazia sentir.
Se um dia passares por esse fuso horário,
por esse pedaço de mar,
e por essa réstia de lua,
não perguntes por mim -
não deixei endereço e parti para parte incerta.
Se a barca aí ainda estiver,
recolhe o pano,
procura a lágrima,
enrola o fio de prumo que a lua tem para te oferecer.
E vai
Vai e não voltes.
Que eu... já não sou deste mar.

5.1.10

A voz e as palavras

Sou Mulher. Adulta. Senhora. Às vezes soturna. Tantas vezes ufana.
Tenho uma voz e revejo-me nas palavras, ditas e reditas por mim, através de mim e pelos outros.
Hoje apeteceu-me um pedaço de estrofe, um naco de poema vadio, uma fatia de romance de erva-doce ou de cordel.
Quero-me sensata, inquieta, imprevisível, desassossegada na minha habitual pacatez, metafórica, feita daquelas águas claras que irrompem das minhas almas, sem aviso, sem surpresa.
Leiam-me, Ouçam-me, decifrem-me, Soletrem-me....E ensinem-me as mágoas das flores, perto das magnólias que florescem antes de dar folha.
Não me atirem correntes mas antes gotas de chuva.
Quero a mansidão das manhãs de Outono, a fúria dos escorpiões, os risos surdos de Charlot, as garças dos vossos sorrisos...

As palavras, vagabundas e libertinas, trocam-me as mãos com o seu galope e afugentam os meus demónios. E correm, velozes, em busca do meu trote...Onde estás, cavalo meu?... à solta no meu peito, perto do canto mais estreito dos meus dedos, longe da esquina mais larga do meu espanto.
Quem te deu asas, quem te feriu de voz e pena, quem te trouxe encavalitado na minha dor, quem te fez meu, mesmo sem asas?

Queria escrever algo para espantar as tempestades
Deixem-me usar uma pena de outros tempos
Deixar recados por histórias antigas e dolentes e
Encontrar violinos debaixo das pedras da calçada...
A mão segue implacável, sem controlo, sem razão,
sem que eu a consiga deter.
Parem-na se quiserem.
Eu... nunca a deterei.
Por amor ao papel.
Ao branco grávido e vazio
Às linhas incontáveis dos meus cadernos da infância
Aos livros que li sem perceber
Às sebentas que preenchi com lenga-lengas
Por missão e
Por recato da minha imaginação.
Sou voz. E uso palavras.
E estou aqui a apresentar-me.
Obrigada por estares aí. Ainda. Obrigada por terem estado aí.....
enquanto cultivei A VOZ E AS PALAVRAS