Sou Mulher. Adulta. Senhora.
Às vezes soturna. Tantas vezes ufana.
Tenho uma voz e revejo-me nas palavras, ditas e reditas por mim, através de mim e pelos outros.
Hoje apeteceu-me um pedaço de estrofe, um naco de poema vadio, uma fatia de romance de erva-doce ou de cordel.
Quero-me sensata, inquieta, imprevisível, desassossegada na minha habitual pacatez, metafórica, feita daquelas águas claras que irrompem das minhas almas, sem aviso, sem surpresa.
Leiam-me, Ouçam-me, decifrem-me, Soletrem-me....E ensinem-me as mágoas das flores, perto das magnólias que florescem antes de dar folha.
Não me atirem correntes mas antes gotas de chuva.
Quero a mansidão das manhãs de Outono, a fúria dos escorpiões, os risos surdos de Charlot, as garças dos vossos sorrisos...As palavras, vagabundas e libertinas, trocam-me as mãos com o seu galope e afugentam os meus demónios.
E correm, velozes, em busca do meu trote...Onde estás, cavalo meu?... à solta no meu peito, perto do canto mais estreito dos meus dedos, longe da esquina mais larga do meu espanto.
Quem te deu asas, quem te feriu de voz e pena, quem te trouxe encavalitado na minha dor, quem te fez meu, mesmo sem asas?
Queria escrever algo para espantar as tempestades
Deixem-me usar uma pena de outros tempos
Deixar recados por histórias antigas e dolentes eEncontrar violinos debaixo das pedras da calçada...A mão segue implacável, sem controlo, sem razão,sem que eu a consiga deter.
Parem-na se quiserem. Eu... nunca a deterei.Por amor ao papel.
Ao branco grávido e vazio. Às linhas incontáveis dos meus cadernos da infânciaAos livros que li sem perceber. Às sebentas que preenchi com lenga-lengas. Por missão e Por recato da minha imaginação.
Sou voz. E uso palavras.
E estou aqui a apresentar-me. Obrigada por estares aí. Ainda. Obrigada por terem estado aí.....enquanto cultivei A VOZ E AS PALAVRAS
Teerão
Há 38 minutos
Sem comentários:
Enviar um comentário