18.5.11

Explodiu a granada.
Inquietaram-se os ventos.
Eclodiu uma perigosa e dantesca tempestade.
Mas caiu o pano, nessa mesma noite em que se tinha erguido.
Ruiu a murada. Nesse mesmo estado de espírito em que se tinha erigido.
...Soltaram-se as pétalas do napalm, daquela fecunda flor que ninguém plantou.
Desistiram os heróis bélicos da paz de todos os dias.
Tudo sucumbia, sem saber como, sem saber porquê.
Até as preces dos hereges mais crédulos pareciam já não afectar ninguém...
Amigos insensatos, para onde vai a vossa saudade?
Tendes receio da musa que vai inspirando os vossos pensamentos?
Como podeis evitar que os pássaros voem em redor dos vossos vazios?
Nada sabeis, nem o pouco que pensais saber,
Nada pensais, nem o muito que sabeis pensar.
Para onde convergem os gritos satânicos de Armagédon?
Para onde vindes, a que vindes, como vindes?
Como ousais tudo isto saber se viver passa a ser proibido?
Como quereis subir mais alto se, a partir de hoje,
e na força indómita do pai que abraçava, sem o saber, o filho já morto,
andam gnomos equivocados a apagar os degraus da grande escadaria?
Oh respeitáveis inimigos íntimos, para quê a cólera
Se nem tempo ides ter para levantar uma mão que seja?
Calaram-se os actores, os autores dos dias e de parte das noites e os adereços.
Em nome de uma nova geração de eleitos,
foi suprimida a bonança em todos os lares, em todas as camas, em todas as lamas.
Aí passou a pensar-se que, afinal, tudo é impossível!
Cegou o incauto poeta. No mesmo dia em que tudo parecia ter visto.
Endoideceu o são Arlequim. No mesmo dia em que tirara a máscara e se vestira de vulgar veneziano.
Adormeceu o Vigilante. No dia em que os homens olharam para dentro de si...
(...)
Deus olhou para a sua obra e suspirou.
Viu o novo tempo.
Difícil.
Turbulento.
Opaco.
Mas não me parece que tenha existido algum momento da nossa história em que Deus se tivesse sentido realmente à vontade!

Paulo Guerra

1 comentário:

alfazema disse...

Texto do meu escritor preferido.

Mil vezes obrigada