13.5.10

A voz e as palavras

Sou Mulher. Adulta. Senhora.

Às vezes soturna. Tantas vezes ufana.

Tenho uma voz e revejo-me nas palavras, ditas e reditas por mim, através de mim e pelos outros.

Hoje apeteceu-me um pedaço de estrofe, um naco de poema vadio, uma fatia de romance de erva-doce ou de cordel.

Quero-me sensata, inquieta, imprevisível, desassossegada na minha habitual pacatez, metafórica, feita daquelas águas claras que irrompem das minhas almas, sem aviso, sem surpresa.

Leiam-me, Ouçam-me, decifrem-me, Soletrem-me....E ensinem-me as mágoas das flores, perto das magnólias que florescem antes de dar folha.

Não me atirem correntes mas antes gotas de chuva.
Quero a mansidão das manhãs de Outono, a fúria dos escorpiões, os risos surdos de Charlot, as garças dos vossos sorrisos...As palavras, vagabundas e libertinas, trocam-me as mãos com o seu galope e afugentam os meus demónios.

E correm, velozes, em busca do meu trote...Onde estás, cavalo meu?... à solta no meu peito, perto do canto mais estreito dos meus dedos, longe da esquina mais larga do meu espanto.

Quem te deu asas, quem te feriu de voz e pena, quem te trouxe encavalitado na minha dor, quem te fez meu, mesmo sem asas?
Queria escrever algo para espantar as tempestades
Deixem-me usar uma pena de outros tempos
Deixar recados por histórias antigas e dolentes eEncontrar violinos debaixo das pedras da calçada...A mão segue implacável, sem controlo, sem razão,sem que eu a consiga deter.

Parem-na se quiserem. Eu... nunca a deterei.Por amor ao papel.
Ao branco grávido e vazio. Às linhas incontáveis dos meus cadernos da infânciaAos livros que li sem perceber. Às sebentas que preenchi com lenga-lengas. Por missão e Por recato da minha imaginação.
Sou voz. E uso palavras.
E estou aqui a apresentar-me. Obrigada por estares aí. Ainda. Obrigada por terem estado aí.....enquanto cultivei A VOZ E AS PALAVRAS

7.5.10


Caros amigos

Depois de ultrapassado o turbilhão de trabalho e emoções que constituiu este ano especial em que fiz celebração de 40 Anos de Carreira, quero agradecer-vos a todos os que de qualquer forma colaboraram, participaram ou me estimularam e apoiaram, com um fortissimo abraço.
Prometo continuar a lutar com dignidade, e a Arte e força possiveis, por uma canção mais valiosa, mais culta, mais bela e mais profunda.
Não me demito, nem retiro. Ajustarei apenas azimutes e processos de vida.
Seleccionarei mais cuidadosamente os locais, os projectos e as propostas culturais.
Com efeito, nem todos merecem, por vezes, o esforço e a generosidade que sempre caracteriza o que faço em palco.
Vou descansar, recarregar baterias, compor, escrever, pintar, passear, jardinar a vida.
Mas penso regressar - mais entusiasta, apostado e irreverente que nunca - o mais breve que conseguir.
O apoio que senti por todo o País deu-me uma alma enorme e uma insuspeitada perspectiva de quanto gostam do que faço.
Não fazia ideia de quanto era querido e respeitado por esse Portugal fora.
Isso acrescenta enormes responsabilidades ao futuro de tudo o que eu decida abraçar.
Ainda quero ir a muitos sitios onde nao fui, e fazer muitas coisas que nao fiz.
Há muita música por compor, muitas canções por inventar.
Se calhar, não muitas já, mas as mais sentidas, ainda estarão por nascer.
Mas esta sensação momentanea de PAZ está a saber-me divinalmente.
Agradeço-vos terem compartilhado comigo todo o stress e loucura do ano q passou.
Literalmente: - de Arcos de Valdevez a Ponta Delgada! Passando por Paris e Lisboa. Mas também Arraiolos, Ponte de Lima, Viana do Castelo, sei lá...
Caramba.
Sem a vossa ajuda nada disto tinha sido possivel.
Um abraço cá do fundo de mim para todos vós.

ate já,

Pedro Barroso