Gosto de sentir a natureza e fingir
que não lhe pertenço.
A mão gigante do vento vai sacudindo o carro
contra o mar
com grandes chapadas brancas.
Não é o mundo que tenho na cabeça
as gotas de água que embaciam o vidro
e o véu da chuva o da noiva submissa.
As palavras não querem ser irmãs das ondas
e o meu silêncio não é filho
desta tempestade.
Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver.
A fúria da maré no espelho do meu rosto
como um poema de Pedro Homem de Mello.
O som mais natural dá-me a nitidez dos choros suicidas
e transporta no tempo
esse luxo dos homens que se chama
esperança.
No céu baila e divaga mais uma gaivota.
No chão perto do mar
ooutro baile circunda o coração.
Mas nunca saberei como dançar...
Armando Silva Carvalho
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