25.1.09

Diz-me onde moras...


Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu.

Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia! Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide. Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço. Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja… ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola. Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...) Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses. Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?", só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro? Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda. Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso? Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas? É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do bairro). É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and GoAway...").

Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima.
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes
civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, ou Vai Mais um Rissól.(...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso
que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água
(Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado parafazer um chi-chi em Alça perna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!!

(Miguel Esteves Cardoso)

11 comentários:

alfazema disse...

ehhehehehehheh morri de rir.
E fazia-me falta..........rir.
Obrigada César......saudades

Anónimo disse...

e O MEC não deve saber que há também uma localidade com o nome de GAITA

Anónimo disse...

Encontrei este blog por acaso, e so depois percebi que pertencia a uma voz da radio... Ja ha algum tempo que nao a oiço pela emissão...

Acho as Galas muito interessantes, apesar de ainda nao ter havido a possibilidade de assistir a alguma... Mas em 2009 espero que possa vir a assistir a uma.

Continuacao de bom trabalho em 93. =)

alfazema disse...

Peço desculpa de só agora ter lido esta mensagem. Não percebo ainda o suficienbte destas coisas e afinal eu tinha que aprovar para que a mensagem fosse publicada. Cheinha de comentários e não sabia. Até já andava triste.
Obrigada pelas palavras.
Lá o/a espero em 2009.
bj

Anónimo disse...

Você, Mila, é o máximo!
SA

alfazema disse...

Quem és? SA?
:(

Gostava de saber quem é que acha que eu sou o máximo
:)

Anónimo disse...

Não ha problema.

Sempre que posso, passo por aqui para ver se há novos textos para ler... Gosto de seguir blogs, e este e mais um a acrescentar a minha lista de favoritos.

Pois, esperemos que este ano possa assistir a gala... O ano passado falei com pessoas que assistiram a gala e que adoraram! Tive mesmo muita pena em nao ter ido também...

Sou um fã da rádio. Da rádio em geral, e da 93 em particular.

Quando estou em Leiria, das 12h as 14h e a partir das 20h, sempre que ouço rádio, é na Rádio Clube de Leiria onde estou sintonizado. Já desde os tempos da CENTRAL FM, sempre que queria estar acompanhado pelo som da rádio, desde pequeno... que era esta a radio que sintonizava... Agora está diferente, mas continuo a acompanhar...

Um dia ainda gostava de conhecer os estúdios de uma rádio...

alfazema disse...

Mig, pode sempre dar uma espreitadela em www.galaradioclubedeleiria.com
e saber tudo sobre as galas.
Quando quiser visitar os estúdios é só combinar.

Anónimo disse...

Seria com muito gosto que visitaria os estúdios se me derem essa oportunidade. Quando tiver disponibilidade para tal, deixo um recado no seu blog para combinar. :)

alfazema disse...

combinado

Toni Delmar disse...

Directamente da Abuxarda.


http://www.myspace.com/tonidelmar





Os melhores cumprimentos.