22.11.08

Poema de uma tarde só


Não tenhas medo do amor.
Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a crescer:
o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis;
a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.
A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes:
pousa a tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros:
explode no teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu
pólen na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.
(Maria do Rosário Pedreira)

1 comentário:

alfazema disse...

Lindo lindo lindo

Muito oportuno para quem tráz a alma invadida por uma imensa melancolia que me não larga.