13.8.09

ANTÓNIO LOBO ANTUNES
(Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha, Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

3 comentários:

Sophia disse...

Será possível?...
É necessária a existência de eleições e o cruzar com pessoas (des)conhecidas para encontrar pequenos recantos no mundo da net onde me revejo e revisito, onde deu de caras com palavras, imagens e sons que me aquecem a alma e me fazem perceber que pensar nas breves coisas da vida não é algo exclusivo de mim, mas há outros semelhantes que a isso também se dedicam. Este poema de António Lobo Antunes é lindíssimo e realista... aliás, como toda a sua escrita que nos deixa voar para uma realidade diferente, mas perceptível. Foi uma boa escolha, Timila! Chamo-a assim, porque sou a mesma Sofia que a comenta no facebook e consigo troca, por vezes, breves palavras. O seu blog conseguiu-me encantar com este poema... parece que anda a acertar em cheio na minha predilecção: a Literatura!
Também tenho 2 blogs www.encruzilhadasdavida.blogspot.com e www.amagiadaliteratura.blogspot.com (este último, um pouco desactualizado)... Visite e deixe os seus comentário!;-)
Um beijinho!
Sofia Fernandes

alfazema disse...

Pois é Sofia.......como eu digo - a vida é a arte do encontro. Andámos desencontradas mas podemos estar a enraizar um abonita amizade agora que nos encontrámos.
Renho andado numa roda viva e só hoje pude vir aqui.
Vou ver o seu blog. Depois comento.
Um beijinho
timila

Bichodeconta disse...

Como só Lobo Antunes poderia ter escrito.Não perco uma crónica.Bjs